quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Literatura: Carlos Drummond de Andrade - 10 questões da FUVEST + outros vestibulares

FUVEST – Literatura – Carlos Drummond de Andrade
Fuvest1992:"Uma flor ainda desbotada
ilude à polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o
[nojo e o ódio. "


Este é um fragmento do poema "A Flor e a Náusea" do livro A ROSA DO POVO de Carlos Drummond de Andrade.
a) O que o nascimento da flor representa?
b) Que relação se poderia estabelecer entre este poema e o momento histórico em que foi elaborado?


resposta:a) A esperança que brota em meio às dificuldades e adversidades.
b) Relaciona-se com a ditadura de Vargas no Brasil e com a negação do nazifascismo.

Fuvest1996
Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus

Esse poema é de Carlos Drummond de Andrade e foi escrito na década de 20, sob a influência de idéias modernistas.
a) Que aspectos da realidade nacional estão representados nas duas primeiras estrofes?
b) Que valores estão implícitos no ponto de vista adotado pelo poeta no último verso do poema?


resposta:a) A vida lenta e monótona das pequenas cidades do interior.
b) A negação desse estilo de vida em favor da vida agitada da modernidade.

Fuvest2000:Leia com atenção os versos finais do poema "Jardim da Praça da Liberdade", de Carlos Drummond de Andrade:

De repente uma banda preta
vermelha retinta suando
bate um dobrado batuta
na doçura
do jardim.
Repuxos espavoridos fugindo.


a) Identifique um dos recursos sonoros empregados nestes versos, explicando qual é o efeito expressivo obtido.
b) Interprete o último verso do poema, indicando o sentido da palavra "repuxos" e explicando por que os repuxos estão "espavoridos fugindo".


resposta:a) Os recursos sonoros presentes são: a assonância das vogais /a/, /e/, /e/ e a aliteração das consoantes /p/, /t/, /b/.
A sonoridade imita o ritmo da banda musical.

b) "Repuxo" significa "corrente de água". No texto, evidencia-se que o comportamento das águas altera-se com a passagem da banda, perturbadora da "doçura/do jardim".
Fuvest2000
QUERO ME CASAR

Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.

Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.

Depressa, que o amor
não pode esperar!

(Carlos Drummond de Andrade, ALGUMA POESIA)


a) Caracterize brevemente a concepção de amor presente neste poema.

b) Compare essa concepção de amor com a que predominava na literatura do Romantismo.


resposta:a) A concepção de amor é idealizada pelo "eu-lírico" do poeta. Ele aceita qualquer tipo de noiva - loura, morena - mas é preciso concretizar o desejo em alguma mulher.

b) Tanto neste poema modernista como no romântico, a concepção ideal de amor é vista de forma platônica. No entanto, quando a figura da mulher, no modernismo, não é idealizada, enquanto no romântico há que ser perfeita, harmônica e de beleza absoluta.

Fuvest2001
Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do Exílio".
Como era mesmo a "Canção do Exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade, "Europa, França e Bahia", ALGUMA POESIA)


Neste excerto, a citação e a presença de trechos.............. constituem um caso de..............

Os espaços pontilhados da frase acima deverão ser preenchidos, respectivamente, com o que está em:
a) do famoso poema de Álvares de Azevedo / discurso indireto.
b) da conhecida canção de Noel Rosa / paródia.
c) do célebre poema de Gonçalves Dias/ intertextualidade.
d) da célebre composição de Villa-Lobos/ ironia.
e) do famoso poema de Mário de Andrade / metalinguagem.


resposta:[C]

Fuvest2001:


POLÍTICA LITERÁRIA

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta
[federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.
(Carlos Drummond de Andrade, "Alguma poesia")

ANEDOTA BÚLGARA

Era uma vez um czar naturalista
que caçava homens.
Quando lhe disseram que também se
[caçam borboletas e andorinhas,
ficou muito espantado
e achou uma barbaridade.
(Carlos Drummond de Andrade, "Alguma poesi



Costuma-se reconhecer que estes poemas, pertencentes ao Modernismo, apresentam aspectos característicos do "poema-piada", modalidade bastante praticada nesse período literário.
a) Identifique um recurso de estilo tipicamente modernista que esteja presente em ambos os poemas. Explique-o sucintamente.
b) Considere a seguinte afirmação:
O POEMA-PIADA VISA A UM HUMORISMO INSTANTÂNEO E, POR ISSO, ESGOTA-SE EM SI MESMO, NÃO INDO ALÉM DESSE OBJETIVO IMEDIATO.
A afirmação aplica-se aos poemas aqui reproduzidos? Justifique brevemente sua resposta.


resposta:a) Ambos os poemas são compostos em versos chamados "livres", pois não obedecem às convenções da métrica tradicional, isossilábica (isto é, na qual os versos "medem" o mesmo número de sílabas). Em ambos os poemas, o registro de linguagem é coloquial, ou seja, próprio da conversação, despido dos traços retóricos que caracterizam o discurso de registro formal, típico da tradição literária de que o Modernismo de então procurava afastar-se. Em ambos os poemas, o humor (outro ingrediente de predileção modernista) é essencial ao efeito crítico e não compromete sua gravidade.

b) Nos dois poemas, o humorismo é instrumento de crítica, de "crítica de vida": em "Política Literária", trata-se da vida cultural, suas relações com o poder e suas hierarquias espúrias; em "Anedota Búlgara", trata-se da opressão política.

Fuvest2005:Considere os seguintes versos, que fazem parte de um poema em que Carlos Drummond de Andrade fala de Guimarães Rosa e de sua obra:

(...) ou ele mesmo [Guimarães Rosa] era
a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sobre'
que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?
(arcabuzeiam = lutam com arcabuzes, espingardas)


a) A luta entre Augusto Matraga e Joãozinho Bem-Bem (do conto "A hora e vez de Augusto Matraga") apresenta, conjugados, os aspectos de guerra e de festa referidos nos versos de Drummond. Você concorda com esta afirmação? Justifique sucintamente.
b) O conflito entre Turíbio Todo e Cassiano Gomes (do conto "Duelo") apresenta essa mesma junção de aspectos de guerra e de festa? Justifique sucintamente.


resposta:a) Esta afirmação se justifica considerando a passagem em que Augusto Matraga, quando não consegue deter a ação violenta de Joãozinho Bem-Bem contra uma família inocente, começa a enfrentar o bando de Joãozinho com o grito festivo e entusiástico: " - Ô gostosura de fim-de-mundo!... "

b) Sim, pois, no conflito entre o marido traído, Turíbio Todo, e o amante de Silivana, Cassiano Gomes, aparecem aspectos de guerra e de festa. Guerra: no próprio jogo que envolve o perseguidor (Turíbio) e o perseguido (Cassiano). Festa: na relação amorosa com Silivana e na aparente vitória de Turíbio.

Fuvest2005:Leia o seguinte texto:

Verão excessivo
Eu sei que uma andorinha não faz verão, filosofou a andorinha-de-barriga-branca. Está certo, mas agora nós somos tantas, no beiral, que faz um calor terrível, e eu não agüento mais!
(Carlos Drummond de Andrade - "Contos plausíveis")


a) Com base na queixa da andorinha-de-barriga-branca, reformule o provérbio "Uma andorinha não faz verão".
b) Está adequado o emprego do verbo "filosofou", tendo em vista que ele se refere ao provérbio citado no texto? Justifique sucintamente sua resposta.


resposta:a) Uma andorinha não faz verão, mas muitas juntas produzem um calor insuportável.

b) O emprego do verbo "filosofar" se justifica por ter ele sido usado de modo informal dando o sentido de "meditar", "chegar a uma conclusão". O provérbio que foi citado exprime o conteúdo da reflexão da andorinha.

Fuvest2006:O que Pedro Nava afirma no final do texto ajuda a compreender o título do livro "Esquecer para lembrar", de Carlos Drummond de Andrade, título que contém
a) um paradoxo apenas aparente, já que designa uma das operações próprias da memória.
b) uma contradição insuperável, justificada apenas pelo valor poético que alcança.
c) uma explicação para a dificuldade de se organizar de modo sistemático os fatos lembrados.
d) uma fina ironia, pois a antítese entre os dois verbos dá a entender o inverso do que nele se afirma.
e) uma metáfora, já que o tempo do esquecimento e o tempo da lembrança não podem ser simultâneos.


resposta:[A]

Fuvest2007:PROCURA DA POESIA

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
(...)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, "A rosa do povo".


No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre "no reino das palavras", presentes no excerto, indicam que, para o poeta de "A rosa do povo",
a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz de se opor ao mundo capitalista.
b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância da variedade padrão da linguagem.
c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não podem nem devem ser interpretados.
d) as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter em conta o que é próprio da linguagem.
e) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia fala apenas de si mesma, são superiores aos poemas que falam também de outros assuntos.


resposta:[D]








  • Questão 1
(UFOP-MG) Observe o texto abaixo:
Fazendeiro de cana
Minha terra tem palmeiras? Não.
Minha terra tem engenhocas de rapadura e cachaça
e açúcar marrom, tiquinho, para o gasto.
 [...]
Tem cana caiana e cana crioula,
cana-pitu, cana rajada, cana-do-governo
e muitas outras canas de garapas,
e bagaço para os porcos em assembleia grunhidora
diante da moenda
movida gravemente pela junta de bois
de sólida tristeza e resignação.

As fazendas misturam dor e consolo
em caldo verde-garrafa
e sessenta mil-réis de imposto fazendeiro.
                             Carlos Drummond de Andrade.
Assinale a alternativa incorreta:

Carlos Drummond de Andrade, neste poema, valendo-se das linguagens desenvolvidas pelo Modernismo:
a) retoma a linguagem do poema romântico, de maneira simétrica e linear, apontando a ideologia nele subjacente.
b) retoma parodisticamente um importante poema do Romantismo brasileiro.
c) faz, em relação ao romântico, uma ruptura ao nível da consciência e ao nível da linguagem.
d) satiriza o sentimento ufanista, comum aos poetas românticos.
e) desmitifica a visão ingênua dos românticos, operando uma leitura crítica da realidade.

  • Questão 2
(Famih – MG)
Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
                              Carlos Drummond de Andrade
Todas as características modernistas citadas abaixo podem ser identificadas no poema de Drummond, exceto:
a) Reaproveitamento do popular e do coloquial, uso de uma linguagem simples, fácil, próxima da expressão oral.
b) Concepção do poético como um texto aberto; um discurso que oferece multiplicidade de sentidos e interpretações.
c) Crítica ao mundo rural, ao universo primitivo, distante do progresso, da civilização mecânica e industrial.
d) Exploração do imprevisível, do inesperado; o corte brusco, a fragmentação de ideias possibilita o surgimento do humor.
e) Interesse pelo homem comum, ordem social e pela vida cotidiana.


  • Questão 3
Poema de sete faces revela uma das criações deste célebre representante de nossas letras – Carlos Drummond de Andrade. Assim, tendo-o como subsídio, procure, após uma leitura atenta, registrar algumas impressões acerca das características ideológicas e do estilo artístico que tanto demarcaram a trajetória desse alguém tão nobre, por excelência. 


Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.



  • Questão 4
No meio do caminho– eis uma criação que, digamos assim, universaliza a poesia de Carlos Drummond de Andrade. Lendo-a e nos familiarizando com o discurso nela presente, podemos perfeitamente registrar algumas demarcações, algumas características, posicionamentos ideológicos que predominaram na época em que se fizeram vistos alguns representantes da chamada segunda fase modernista, em especial, na poesia.  Nesse sentido, que tal retratá-los?
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas. 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra




Respostas

  • Resposta Questão 1
Constatamos, consoante as características impressas pela era modernista, que a alternativa que mais se adéqua ao que nos propõe o enunciado da questão é aquela demarcada pela letra “A”, haja vista que, uma vez modernista, o poeta em questão não retoma (e nem teria condições de retomar) a linguagem  das criações artísticas cultuadas no Romantismo, tampouco a carga ideológica, ora demarcada por uma visão camuflada acerca da realidade. Isso seria impossível diante do que nos atesta as criações registradas pela era modernista.


  • Resposta Questão 2
Ao direcionarmos o olhar para a alternativa demarcada pela letra “C”, constatamos que as afirmações nela presentes vão de encontro ao que tanto pregaram as concepções cultuadas pelo Modernismo, uma vez que uma delas foi justamente a crítica à elite burguesa, aos valores sociais, especificamente dizendo. Dessa forma, como o próprio poema capta as impressões voltadas para uma vida simples, banalizada até, o discurso que nele se evidencia não pode, de forma alguma, ser concebido, revestido sob um tom crítico.

  • Resposta Questão 3
Desde os primeiros diálogos traçados pelo poeta, sobretudo fazendo referência à palavra “torto”, identificamos uma das características inerentes à época a que pertenceu Carlos Drummond de Andrade. Época essa demarcada pelo período pós-guerra e que, sem sombra de dúvida, deixou inúmeros conflitos advindos da condição de estar no mundo. Dessa forma, não poderíamos presenciar outro alguém que não fosse aquele que se sente questionado, conturbado em meio aos conflitos exteriores, o que resulta vez ou outra nos muitos questionamentos interiores.
Assim, o que se vê é um eu-lírico revestido por inquietações diante de uma realidade, diante de um mundo que não o satisfaz. Dessa forma, tal sentimento muitas vezes se deixa transparecer de forma camuflada, sobretudo (como ocorre com o poema em questão) por meio de um certo tom de humor ora mesclado ao de ironia. Vê-se então que a voz poética se incorpora num ser que se sente deslocado, que se sente questionado e que, sobretudo, não aceita o mundo em que vive, pois o concebe totalmente o oposto daquele que realmente idealiza. Mesmo mudando de nome, a pessoa não mudaria, como em:
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

  • Resposta Questão 4
Estando diante da criação em voga, um leitor, porventura desavisado, certamente se perderá em meio às afirmações pregadas pelo autor, sobretudo por meio da passagem – “No meio do caminho tinha uma pedra”.Contudo, ao apurarmos nossos conhecimentos acerca do que é a Literatura propriamente dita, passamos a compreender muito bem esse ir e voltar de  Drummond, aparentemente (para não dizer nitidamente) perdido em meio a uma indagação, uma indagação que se demarca “graças” à condição de estar no mundo, condição que, mesmo historicamente passada, apresenta-se mais atual do que nunca. Dessa forma, inferimos que o poeta diante de tal criação não se desapega da arte, do fazer poético, mas que, no entanto, sente-se preso às amarras da condição de estar no mundo em face dos graves problemas que assolam a realidade circundante, sobretudo simbolizada pela palavra “pedra”: “Tinha uma pedra no meio do caminho”.




Fatec 2007
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao amanhecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940)

Considere as seguintes afirmações sobre o texto.

I. Trata-se de um poema em que o eu lírico afirma seu desejo de que a poesia possa reconstruir aquilo que, tendo sido destruído no passado, permanece atual em sua memória.
II. O poeta manifesta a confiança de que sua nova poesia poderá superar os problemas pessoais que quase o levaram ao suicídio e o fizeram desejar isolar-se.
III. O poeta convoca outros poetas para que, juntos, possam se libertar das velhas convenções que prejudicam a poesia moderna.
IV. Os versos da 1 estrofe indicam o anseio do eu lírico de que sua poesia se aproxime dos homens e ajude a transformar a vida presente.
V. Na 2 estrofe, o eu lírico nega que a poesia desse momento histórico deva tratar de temas sentimentais ou amorosos.

São corretas apenas as afirmações
a) I, II e III.
b) I e IV.
c) II e III.
d) III e IV.
e) IV e V.
resposta:
[E]


Considerando o poema "Mãos dadas", no conjunto da obra a que pertence ("Sentimento do mundo"), é correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade
a) recusa os princípios formais e temáticos do primeiro Modernismo.
b) tematiza o lugar da poesia num momento histórico caracterizado por graves problemas mundiais.
c) vale-se de temas que valorizam aspectos recalcados da cultura brasileira.
d) alinha-se à poética que critica as técnicas do verso livre.
e) relativiza sua adesão à poesia comprometida com os dilemas históricos, pois a arte deve priorizar o tema da união entre os homens.



resposta:
[B]

História: 7 questões da FUVEST sobre Revolução Russa

FUVEST – Revolução Russa
2. (Fuvest 2000) Há controvérsias entre historiadores sobre o caráter das duas grandes revoluções do mundo contemporâneo, a Francesa de 1789 e a Russa de 1917; no entanto, existe consenso sobre o fato de que ambas
a) fracassaram, uma vez que, depois de Napoleão, a França voltou ao feudalismo com os Bourbons e a União Soviética, depois de Gorbatchev, ao capitalismo.
b) geraram resultados diferentes as intenções revolucionárias, pois tanto a burguesia francesa quanto a russa eram contrárias a todo tipo de governo autoritário.
c) puseram em prática os ideais que as inspiraram, de liberdade e igualdade e de abolição das classes e do Estado.
d) efetivaram mudanças profundas que resultaram na superação do capitalismo na França e do feudalismo na Rússia.
e) foram marcos políticos e ideológicos, inspirando, a primeira, as revoluções até 1917, e a segunda, os movimentos socialistas até a década de 1970.

4) (Fuvest-2004) A Primeira Guerra Mundial, (1914-1918), foi o primeiro conjunto de acontecimentos que abalou seriamente o domínio colonial e a existência de impérios europeus no século XX.
Tendo por base o texto, explique:
a) A associação entre o colonialismo europeu e a Primeira Guerra.
b) A relação entre a Primeira Guerra e a destruição do Império Russo.

5) (FUVEST-2008) “Há oitenta anos, a Rússia era forte por causa do dinamismo revolucionário do comunismo, incluindo o poder de atração da sua ideologia. Há quarenta anos, a Rússia Soviética era forte por causa do poderio do Exército Vermelho. Hoje, a Rússia de Putin é forte por causa do gás e do petróleo.”
Timothy Garton Ash, historiador inglês, janeiro de 2007.
Do texto, depreende-se que a Rússia
a) manteve inalterada sua posição de grande potência em todo o período mencionado.
b) recuperou, na atualidade, o seu papel de país líder da Europa.
c) conheceu períodos de altos e baixos em função das conjunturas externas.
d) passou de força política, a força militar e desta, a força econômica.
e) conservou, sempre, a sua preeminência graças ao incomparável poderio militar.

62. (Fuvest 97) Qual das seguintes afirmações explica, sinteticamente, o fim da União Soviética?
a) O regime entrou em colapso porque os dirigentes estavam desmoralizados, desde as denúncias de Kruschev no XX Congresso do Partido.
b) O regime deixou de ser sustentado pelo exército, adversário tradicional do partido comunista.
c) A vitória militar dos Estados Unidos na guerra fria tornou inviável a manutenção do regime.
d) O colapso do regime deveu-se à crise generalizada da economia estatal, combinada com o fracasso da abertura controlada de Gorbachev.
e) Os líderes soviéticos abandonaram a crença no socialismo e decidiram transformar a União Soviética em um país capitalista.

63) (FUVEST) "Tinha razão o camponês que declarou no VIII Congresso dos Sovietes: tudo vai bem. Mas, se a terra é para nós, o pão é para vocês, isto é, para os comissários; a água é para nós, mas o peixe para vocês; as florestas são para nós, mas a madeira para vocês." ("lzvestia" de Kronstadt, 25/03/1921, cit. in Henri Arvon -A REVOLTA DE KRONSTADT).
a) Em que sentido essa denúncia chocava-se com o projeto bolchevique de todo poder aos sovietes?
b) Qual a política implementada posteriormente por Stálin em relação ao campesinato?

64) (FUVEST)  Qual a divergência entre Stalin e Trotsky que conduziu à disputa pelo poder na URSS em 1925? Qual o desfecho dessa disputa?

65) (FUVEST)  Qual a relação entre a Primeira Guerra Mundial e os acontecimentos políticos que ocorreram na Rússia entre fevereiro e outubro de 1917?





Gabarito
2. [E]
4) a) A Primeira Guerra Mundial teve entre suas principais causas as disputas imperialistas entre as grandes nações européias, principalmente pelo controle de territórios na Ásia e na África. Um exemplo dessas tensões foi a famosa Questão Marroquina, que acirrou as rivalidades entre França e Alemanha.
b) As derrotas militares do Império Russo diante da Alemanha durante a guerra aceleraram o processo de desagregação do regime do czar Nicolau II. A fome, o alistamento compulsório, o grande número de mortes e a corrupção generalizada ajudaram a precipitar o desfecho revolucionário de 1917.

5) Alternativa: D
O texto faz referência a três períodos da História da Rússia: o primeiro, em 1917, quando a Rússia implantou o Socialismo por meio da Revolução, demonstrando seu poder político-ideológico; o segundo, durante a Guerra Fria, onde a URSS se consolidou como força militar por causa do Exército Vermelho e dos investimentos em tecnologia bélica; e o terceiro, atualmente, onde a Rússia se destaca economicamente em função dos recursos energéticos do seu país.
62. [D]
63) a) Na medida em que o projeto bolchevique prometia acabar com as desigualdades sociais, através de conselhos populares.
b) Stalin provocou a coletivização forçada do campo e neutralizou o poder dos Gulaks.

64) Trotsky criticava Stalin, que acabou explusando-o do Partido e da URSS.Ele criticava Stalin pois queria expandir a Revolução Russa e Stalin queria consolidá-la e depois expandí-la.Depois de um tempo, Stalin mandou matá-lo, tornando-se vitorioso.
65) As derrotas sofridas pela Rússia na Primeira Guerra Mundial provocaram a crise do czarismo e a derrubada do Estado liberal que o substituiu, favorecendo a ascensão dos bolcheviques (socialistas revolucionários) que tomaram o poder em outubro de 1917, implantando o Estado socialista.


Português (Interpretação de textos): 5 questões objetivas da FUVEST

Texto para as questões de números 1 a 5.

O HACKER E A LITERATURA

         Para conceder liberdade provisória a três jovens detidos sob a acusação de praticar crimes pela Internet, um juiz federal do Rio Grande do Norte determinou uma condição inédita: que os rapazes leiam e resumam, a cada três meses, dois clássicos da literatura. As primeiras obras escolhidas foram “A hora e vez de Augusto Matraga”, conto de Guimarães Rosa, e Vidas secas, romance de Graciliano Ramos.
(Folha de S. Paulo, Cotidiano, 23/04/2008)

         Quando o juiz pronunciou a sentença, a primeira reação dele foi de revolta. Preferível a cadeia, disse para os pais e para o advogado. De nada adiantaram os argumentos deles, segundo os quais a decisão do magistrado tinha sido a melhor possível e, mais, um grande avanço na tradição judiciária.
         Foi uma revelação, uma experiência pela qual nunca tinha passado antes. De repente, estava descobrindo um novo mundo, um mundo que sempre lhe fora desconhecido. Vidas Secas simplesmente o fez chorar. Leu outros livros de Graciliano e Guimarães Rosa. Leu poemas de Bandeira e João Cabral. E de repente estava decidido: queria dedicar sua vida à literatura. Foi aprovado em Letras, fez o curso, tornou-se professor – leciona na universidade.
         Ah, sim, ele tem um sonho: gostaria de ser um ficcionista. Tem na cabeça o projeto de um romance. É a história de um hacker que, entrando num site, descobre uma história tão emocionante que muda sua vida. Uma história como Graciliano Ramos escreveria, se, claro, ele fosse um ex-hacker.
 (Adaptado de Moacyr Scliar, Folha de S. Paulo, 28/04/2008)

1. (FUVEST) – Esses dois textos, uma vez inter-relacionados, estabelecem um dialogo entre
a) dois discursos ficcionais que tratam do mesmo fato.
b) dois fragmentos dissertativos que desenvolvem a mesma tese.
c) dois discursos ficcionais que tratam de fatos semelhantes.
d) um discurso informativo e um ficcional, que desenvolve o primeiro.
e) um discurso ficcional e um dissertativo, que desenvolve o primeiro.

2. (FUVEST) – No texto de Moacyr Scliar, as reações e iniciativas do hacker são expressas
a) numa contínua progressão temporal.
b) num tempo delimitado no passado.
c) em diferentes tempos do passado.
d) numa sucessão contínua do presente.
e) fragmentariamente, sem continuidade temporal.

3. (FUVEST) – Está inteiramente correta a redação da seguinte frase:
a) E mais preferível a cadeia do que enfrentar a literatura, pensou o hacker.
b) Preferia muito mais outra pena qualquer, do que ficar lendo e resumindo.
c) Prefiro a cadeia ao em vez de ler e resumir essa tal de literatura.
d) O hacker teria preferido ir preso do que ler e resumir obras clássicas.
e) Ele achava preferível ficar preso a ter que ler e resumir aqueles livros.

4. (FUVEST) – Está adequada a correlação entre os tempos verbais da frase:
a) Será que o juiz, de fato, averiguara se os três jovens lessem e resumissem clássicos da literatura?
b) Espantou a todos a notícia de que o juiz determinara que os três jovens devam ter lido e resumido clássicos da literatura.
c) Ninguém imaginou que o juiz pudesse determinar que os três jovens haveriam de ler e resumir clássicos da literatura.
d) O juiz houve por bem determinar aos três jovens que se ocupariam da leitura e do resumo de clássicos da literatura.
e) O juiz preferiu que os jovens leiam e resumam clássicos da literatura, em vez de terem cumprido outro tipo de pena.

5. (FUVEST) – Em seu texto, Moacyr Scliar revela interesse em demonstrar que a
a) compreensão dos clássicos da literatura subordina-se à vocação para o curso de Letras.
b) dificuldade de compreensão dos clássicos da literatura e transposta quando se e obrigado a lê-los.
c) resistência à literatura deve-se ao fato de que a linguagem da informática é mais sedutora.
d) resistência à literatura pode ser atribuída à falta de uma aproximação real entre as obras e o leitor.
e) dificuldade de se encontrar prazer na literatura deve-se ao rigor formal de algumas obras clássicas.


GABARITO: 1-D; 2-A; 3-E; 4-C; 5-D

Literatura: “Vidas Secas” (FUVEST e Unicamp) - 5 questões objetivas e 4 discursivas (com gabarito)

Literatura – “Vidas Secas” (FUVEST e Unicamp)

QUESTÕES OBJETIVAS

1. (FUVEST 2001) Um escritor classificou Vidas secas como “romance desmontável”, tendo em vista sua composição descontínua, feita de episódios relativamente independentes e seqüências parcialmente truncadas. Essas características da composição do livro

a) constituem um traço de estilo típico dos romances de Graciliano Ramos e do Regionalismo nordestino.
b) indicam que ele pertence à fase inicial de Graciliano Ramos, quando este ainda seguia os ditames do primeiro momento do Modernismo.
c) diminuem o seu alcance expressivo, na medida em que dificultam uma visão adequada da realidade sertaneja.
d) revelam, nele, a influência da prosa seca e lacônica de Euclides da Cunha, em Os sertões.
e) relacionam-se à visão limitada e fragmentária que as próprias personagens têm do mundo.

2. (FUVEST 2002) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas A hora da estrela:

I. Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que retratam.
II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social.
III. A personagem sinha Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de consumo.

Está correto apenas o que se afirma em

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

3. (FUVEST 2008) Considere as seguintes afirmações sobre três obras literárias:

Na primeira obra, o catolicismo apresenta-se como religião absoluta, cujos princípios sólidos mais sobressaem ao serem contrapostos às desordens humanas. Na segunda obra, diferentemente, ele aparece como religião relativamente maleável, cujos preceitos as personagens acabam por adaptar a seus desejos e conveniências, sem maiores problemas de consciência subseqüentes. Já na terceira obra, o catolicismo comparece sobretudo como parte de um resgate mais amplo de valores familiares e tradicionais, empreendido pelo protagonista.



Essas afirmações referem-se, respectivamente, às seguintes obras:

a) Dom Casmurro, Memórias de um sargento de milícias e Auto da barca do inferno.
b) Memórias de um sargento de milícias, “A hora e vez de Augusto Matraga” e Vidas secas.
c) “A hora e vez de Augusto Matraga”, A cidade e as serras e Memórias de um sargento de milícias.
d) Auto da barca do inferno, Dom Casmurro e A cidade e as serras.
e) A cidade e as serras, Vidas secas e Auto da barca do inferno.

4. (FUVEST 2008) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e Iracema:

I. Em ambos os livros, a parte final remete o leitor ao início da narrativa: em Vidas secas, essa recondução marca o retorno de um fenômeno cíclico; em Iracema, a remissão ao início confirma que a história fora contada em retrospectiva, reportando-se a uma época anterior à da abertura da narrativa.
II. A necessidade de migrar é tema de que Vidas secas trata abertamente. O mesmo tema, entretanto, já era sugerido no capítulo final de Iracema, quando, referindo-se à condição de migrante de Moacir, “o primeiro cearense”, o narrador pergunta: “Havia aí a predestinação de uma raça?”
III. As duas narrativas elaboram suas tramas ficcionais a partir de indivíduos reais, cuja existência histórica, e não meramente ficcional, é documentada: é o caso de Martim e Moacir, em Iracema, e de Fabiano e sinha Vitória, em Vidas secas.

Está correto o que se afirma em

a) I, somente.
b) II, somente.
c) I e II, somente.
d) II e III, somente.
e) I, II e III.

5. (FUVEST 2009) Quando nos apresentam os homens vistos pelos olhos dos animais, as narrativas em que aparecem o burrinho pedrês, do conto homônimo (Sagarana), os bois de “Conversa de bois” (Sagarana) e a cachorra Baleia (Vidas secas) produzem um efeito de

a) indignação, uma vez que cada um desses animais é morto por algozes humanos.
b) infantilização, uma vez que esses animais pensantes são exclusivos da literatura infantil.
c) maravilhamento, na medida em que os respectivos narradores servem-se de sortilégios e de magia para penetrar na mente desses animais.
d) estranhamento, pois nos fazem enxergar de um ponto de vista inusitado o que antes parecia natural e familiar.
e) inverossimilhança, pois não conseguem dar credibilidade a esses animais dotados de interioridade.



Gabarito
1)E    2)B    3)D    4)C    5)D




QUESTÕES DISCURSIVAS

1. (UNICAMP 1998) Em Vidas Secasapós ter vencido as dificuldades, postas no início da narrativa, Fabiano afirma: “Fabiano, você é um homem...”. Corrige-se logo depois: “Você é um bicho, Fabiano”. Em seguida, encontrando-se com a cadelinha, diz: “Você é um bicho, Baleia”. Ao chamar a si mesmo e a Baleia de “bicho”, Fabiano estabelece uma identificação com ela. Na leitura de Vidas Secas, podem-se perceber vários motivos para essa identificação. Cite dois
desses motivos.

Fabiano chega a afirmar que se sente resistente como um bicho, por sobreviver à seca, do
mesmo modo que Baleia; ele também tem enorme dificuldade para se expressar, fazendo-o por meio de gestos e de sons guturais como “Hum!”, “An!”, o que poderia ser comparados aos latidosde Baleia. Fabiano também tem dificuldades para elaborar idéias mais complexas; quase sempre fica confuso, o que pode se relacionar à irracionalidade de Baleia.

2. (UNICAMP 2008) Leia o seguinte trecho do capítulo “Contas”, de Vidas Secas.

Tinha a obrigação de trabalhar para os outros, naturalmente, conhecia do seu lugar. Bem. Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? Se lhe dissessem que era possível melhorar de situação, espantar-se-ia. (...) Era a sina. O pai vivera assim, o avô também. E para trás não existia família. Cortar
mandacaru, ensebar látegos – aquilo estava no sangue. Conformava-se, não pretendia mais nada. Se lhe dessem o que era dele, estava certo. Não davam. Era um desgraçado, era como um cachorro, só recebia ossos. Por que seria que os homens ricos ainda lhe tomavam uma parte dos ossos? Fazia até nojo pessoas importantes se ocuparem com semelhantes porcarias.
(Graciliano Ramos, Vidas Secas. 103ª. ed., Rio de Janeiro: Editora Record, 2007, p.97.)

a) Que visão Fabiano tem de sua própria condição? Justifique.

Trata-se de uma visão extremamente alienada e conformista (“Conformava-se, não pretendia mais nada”, diz ele), justificada, inclusive, por uma lógica determinista. Fabiano aceita a exploração e a condição social miserável em que vive como se fossem naturais, produtos de uma sina (“Nascera com esse destino, ninguém tinha culpa de ele haver nascido com um destino ruim. Que fazer? Podia mudar a sorte? [...] Era a sina.”), ou mesmo de uma herança genética, pois, segundo ele, o “pai vivera assim, o avô também [...] aquilo estava no sangue”.

b) Explique a referência que ele faz aos “homens ricos” com base no enredo do livro.

Os “homens ricos” mencionados no trecho são homens de posse, senhores de terras, exploradores como o proprietário das terras em que Fabiano se instala com sua família. Como não tinha roça e apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, Fabiano precisava recorrer à feira para a compra de mantimentos, a fim de alimentar a família. Para isso, negociava os poucos bezerros e cabritos que possuía com o
proprietário das terras, que os comprava a preços baixíssimos. O valor que conseguia com os animais não era suficiente para se manter e precisava recorrer ao patrão, que lhe cobrava juros altíssimos pelos empréstimos. As contas do patrão nunca batiam com as de Sinhá Vitória, em virtude dos juros exorbitantes cobrados por tais empréstimos. Quando Fabiano reclamava, o patrão, irritado, mandava-o procurar outra fazenda. Fabiano, então,
sem alternativa, calava-se e se submetia aos desmandos e à exploração do patrão.

3. (FUVEST 2008) Em seu poema chamado “Graciliano Ramos:”, João Cabral de Melo Neto coloca-se no lugar desse escritor e desenvolve quatro afirmações:

I. “Falo somente com o que falo:” (= com os meios que uso para expressar-me, com o estilo que emprego).
II. “Falo somente do que falo:” (= dos assuntos de que trato, dos aspectos que privilegio).
III. “Falo somente por quem falo:” (= em nome de quem falo, a quem dou voz em minha obra).
IV. “Falo somente para quem falo:” (= a quem me dirijo ao escrever, de que modo trato o leitor).

Imitando o procedimento de João Cabral, coloque-se no lugar de Graciliano Ramos e desenvolva cada uma dessas quatro afirmações, tendo como referência o romance Vidas secas.

I. O estilo adotado é seco, despojado, descarnado (no dizer de Alfredo Bosi). Esses aspectos são confirmados pela valorização do período e do parágrafo curtos, pelo predomínio das orações coordenadas e justapostas; pela economia dos elementos
descritivos (que só estão presentes quando imprescindíveis para a situação que nomeiam). A linguagem, reduzida ao mínimo, mimetiza a miséria do meio e dos próprios personagens.
II. Os assuntos de Vidas Secas são a brutalização do homem, resultante dos elementos geográficos (como a seca), mas, sobretudo de uma ordem sócio-político-econômica que divide os homens entre os donos da terra e do poder (latifundiários e governo) e aqueles que só têm a força de trabalho para oferecer (retirantes) e a incomunicabilidade resultante dessa realidade.
III. O narrador do romance Vidas Secas fala em nome desses oprimidos que não têm voz; daí a presença de um narrador em terceira pessoa onisciente, necessário para exteriorizar os anseios, os sonhos e as necessidades desses desvalidos.
IV. O narrador se dirige ao leitor, que, como ele, está distanciado do universo dos retirantes e pode compreender toda a dinâmica (em seus aspectos sociais, políticos e econômicos) dessa trágica realidade. Essa postura do narrador se evidencia claramente no capítulo final do romance, quando a família vislumbra um futuro melhor na cidade grande e o narrador, irônico e visando à percepção do leitor, afirma: "e o sertão continuaria a mandar para a cidade homens fortes como Fabiano e sinha Vitória".

4. (FUVEST 2009) Leia as afirmações abaixo e responda ao que se pede.

I. A dureza do clima, que se manifesta principalmente nas grandes secas periódicas, explica todas as aflições de Fabiano, ao longo da narrativa deVidas secas, de Graciliano Ramos.

a) Você concorda com essa afirmação (I)? Justifique sucintamente sua resposta.

Não é possível concordar com a afirmação, uma vez que todas as aflições de Fabiano não se explicam apenas pela dureza do clima: ele é oprimido também por fatores do meio social em que vive; basta lembrar os episódios do soldado amarelo e de suas relações com o patrão.

II. Apesar de quase atrofiadas na sua rusticidade, as personagens de Vidas secas, de Graciliano Ramos, conservam um filete de investigação da interioridade: cada uma delas se perscruta, reflete, tenta compreender a si e ao mundo, ajustando-o à sua visão.

b) Você considera essa afirmação (II) correta? Justifique brevemente sua resposta.


Sim, pois, apesar de privadas de linguagem, as personagens têm sua interioridade conhecida graças ao recurso do discurso indireto livre, em que, no meio da fala do narrador, irrompe o próprio pensamento da personagem.